Cerca de 20% dos cânceres humanos são causados por vírus, e destes, 50% são provocados pelo papilomavírus humano (HPV, na sigla em inglês). O HPV, especificamente dois deles: tipo 16 e tipo 18, está envolvido em quase 100% dos casos de câncer de colo de útero, mas também pode levar a outros tipos de câncer, como anal, de vulva, de vagina, de pênis e de orofaringe.
O câncer de colo do útero é uma doença grave. É o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões em desenvolvimento. Segundo o Ministério da Saúde estima-se que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por ano. A transmissão ocorre por via sexual e pode acontecer mesmo sem penetração.
Vacina do HPV
Com o surgimento das vacinas foi possível não só sobreviver às chamadas doenças da infância, mas aumentar a expectativa de vida progressivamente. Na esteira de outras vacinas que causaram impacto em saúde pública com redução e mesmo erradicação de doenças transmissíveis, a vacina contra o HPV vem com o mesmo propósito.
A vacina que está disponível no SUS é uma quadrivalente contra o HPV, ou seja, atua contra 4 tipos de vírus, incluindo os tipos acima, mas recentemente houve o lançamento no país de uma nova versão contra 9 tipos e que protege até 90% dos casos de câncer de colo de útero.
A meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% da população elegível, mas os números estão abaixo do esperado no Brasil, pois mesmo com a disponibilidade da vacina, o índice de vacinação contra o HPV de meninas brasileiras atinge apenas 57% e, nos meninos, não chega a 40%, sendo que o ideal para prevenir a doença é uma cobertura de 90%.
Prevenção e controle
A definição da faixa-etária para a vacinação visa proteger as crianças antes do início da vida sexual e, portanto, antes do contato com o vírus. Meninas e meninos de 9 a 14 anos, com esquema de 2 doses. Adolescentes que receberem a primeira dose dessa vacina nessas idades, poderão tomar a segunda dose mesmo se ultrapassado os seis meses do intervalo preconizado, para não perder a chance de completar o seu esquema.
Desde 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) trabalha com a meta de eliminar o câncer de colo de útero e o classifica como um problema de saúde pública mundial. Até 2030, é esperado que:
- 90% das meninas estejam vacinadas aos 15 anos de idade;
- 70% das mulheres sejam rastreadas com um teste de alta qualidade aos 35 e aos 45 anos;
- 90% das mulheres diagnosticadas com câncer de colo de útero estejam em tratamento.
Febre Maculosa
Me foi pedido, recentemente, para comentar sobre os casos dessa doença, inclusive com mortes, que surgiram no interior de SP. A Febre Maculosa é uma zoonose, isto é, uma doença que pode acometer humanos e outros animais, infecciosa, aguda, febril e de gravidade variável. Ela pode variar desde as formas clínicas leves até formas graves, com elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato.
Os principais sintomas da Febre Maculosa são febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos. Dor muscular constante, edema (inchaço) e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés. Vemos que os sintomas também são parecidos com outras doenças, como leptospirose, dengue etc. No entanto, ter estado em locais de mata, florestas, fazendas, onde possa ter sido picado por um carrapato, são pistas para uma série de exames para confirmar ou contribuir com o diagnóstico.
No Brasil, duas espécies dessa bactéria estão associadas a quadros clínicos da Febre Maculosa. A chamada Febre Maculosa Brasileira (FMB), considerada a doença grave, causada por uma dessas espécies, que é registrada no norte do Paraná, SP e demais estados da Região Sudeste. Outra espécie registrada em ambientes de Mata Atlântica do Rio Grande do Sul e Santa Catarina produz quadros clínicos menos graves.
Conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinannet), entre os anos de 2007 e 2022, foram confirmados 17 casos de Febre Maculosa no Rio Grande do Sul, sem nenhum óbito. Até o momento, em 2023, não há confirmação de casos no Estado. Em contraste, nesse mesmo período, em SP, houve mais de 2 mil casos.
Carrapato do RS
No Brasil, os principais vetores são os carrapatos conhecidos como carrapato estrela. Entretanto, potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode albergar a bactéria causadora da Febre Maculosa, como por exemplo, o carrapato do cachorro.
Apesar de ser comum em quase todo o Brasil, o carrapato estrela não é encontrado no Rio Grande do Sul, essencialmente, por questões climáticas. Lembro que, há décadas, o governo do Estado mantém um programa contínuo de vigilância das espécies de carrapatos, visando identificar riscos à saúde humana e animal. O carrapato bovino não apresenta qualquer risco de transmissão ao ser humano.